Abri uma caixa de perguntas em meu Instagram, como sempre costumo fazer para saber a opinião dos meus leitores, a pergunta era simples: o que é resiliència para você? Entre as mais variadas respostas, uma me chamou muito a atenção, a resposta era simplesmente a palavra “você”.
Tinha escrito um texto mais técnico para abordar esse assunto tão subjetivo. Mas, meu melhor amigo e, também editor, discordou, disse que faltava sentimento, faltava conversar com meu público.
Então, vamos bater um papo?
A primeira vez que ouvi a palavra resiliência foi na época da faculdade, quando apresentei minha ideia de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, ao meu coordenador na época. Ele disse que precisava estudar mais essa palavra e não disse exatamente o porquê, apenas mandou eu ir a campo, então eu fui.
A palavra virou meio que “modinha” entre as tatuagens mais feitas ou até mesmo em uma roda de conversa. Mas, sabemos ao certo o real significado? No dicionário ela está definida como substantivo feminino e com algumas variações. Física: propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Figurado: potencial de se recuperar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Para filósofos ser uma pessoa resiliente tem mais a ver com o tempo de recuperação. Outros com o que aprendemos perante os fatos adversos. Em minha mente era claro o significado. Mas, recentemente fiz um workshop de gestão emocional, diga-se de passagem de dentro do hospital quando tive Covid-19 no começo do mês passado. E, a palestrante falou algo que nunca havia pensado.
No decorrer da palestra, ela afirma que resiliência está diretamente ligada ao tempo de recuperação. Que para uma pessoa ser considerada resiliente precisa passar por dificuldades e se recuperar de forma rápida.
Pensei, poxa, será que as pessoas que demoram mais tempo não podem entrar nessa categoria? E o aprendizado que fica? E aquelas velhas questões que temos que respeitar o tempo de cada um?
Pois é, meus leitores… Cá estou cheia de dúvidas e fazendo o mesmo com vocês. Por isso, vou relatar alguns fatos importantes em minha vida:
No ano de 2010 fiquei internada a primeira vez por conta do lúpus, muitas pessoas que me acompanham já sabem da história, mas é sempre bom lembrar. Foi quando minha vida virou de cabeça para baixo, quando tudo o que eu acreditava ser certo foi tirado de mim. Não foi fácil, mas precisei parar por 45 dias e ficar internada em um hospital, entre esses dias 30 foram sem andar. Raspei o cabelo, aprendi a andar de novo, a comer, a falar e a viver. Lembro que dentro do hospital eu rabiscava aquilo que mais tarde foi ser meu livro Cores do Lúpus.
Outra internação importante em minha vida foi em 2013. Estava eu voltando de viagem e senti um soco na nuca, nunca havia sentido tanta dor de cabeça, e olha que já conhecia algumas (risos de nervoso). Em seguida, internação, Unidade de Terapia Intensiva - UTI e, mais uma vez, tive que reaprender sobre a vida.
Mais uma internação que posso exemplificar, entre as dezenas que já tive, foi a de agora. A que eu peguei Covid e precisei de oxigênio. Não foi fácil. Lembro da primeira vez que fui ao hospital, o médico disse que não ia precisar internar, corta para dois dias depois a ambulância indo me buscar em casa. Foi UTI, oxigênio e todo aquele protocolo que ficamos conhecendo com a pandemia do Covid, mas que já conhecia desde 2010 quando tive minha primeira embolia pulmonar. Respirar é uma arte, sério.
Sabe o porquê citei esses três breves relatos?
Porque lá em 2010 quando fiquei internada a primeira vez, precisei de 45 dias para meu corpo começar a voltar ao “normal”, até porque a normalidade é uma palavra confusa e sem definição exata. Mas, foram dias de luta e pequenas vitórias, foi a partir desses dias que a palavra “resiliência” foi introduzida ao meu vocabulário diário.
Em 2013 eu fiquei de outubro até fevereiro me recuperando. Eu virei um bebê porque um lado do meu corpo paralisou e precisei de ajuda de fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista, reumatologista e toda a equipe que me acompanhou. Foram meses de recuperação e paciência. Ahhhh a paciência… Essa a gente aprende a ter na marra.
E por último minha internação mais recente, fiquei internada quase uma semana, saí do hospital em home care (medicação venosa feita em casa), e sigo com alguns sintomas mesmo após quase um mês da doença.
Eu sou uma pessoa resiliente e digo isso não porque estou tentando te convencer, pelo contrário, digo porque sei do meu potencial de “dar a volta por cima”. Então, gosto de pensar que ser resiliente é isso, ter a capacidade de aprender e superar algo que, por ventura, atrapalhou seu caminho.
Mesmo ainda em recuperação, aprendi um pouco mais sobre a vida, sobre o quanto a nossa respiração é preciosa, o quanto ser livre é importante e o quanto pequenas vitórias nos trazem sentido para a vida.
Por isso eu digo para vocês, não se prendem a conceitos, se prendam ao aprendizado que a oportunidade pode trazer. E mais, leve o tempo que precisar para se recuperar, lembre-se que ver o nascer do sol de forma livre é sensacional.
Até a próxima :)
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