Eu não sei quando foi, mas lembro da minha mãe dizendo para as pessoas “Filho, a gente cria para o mundo”. Cresci ouvindo essa frase e hoje, sendo mãe, ela faz ainda mais sentido, principalmente, agora que a Lívia está passando uns dias na casa dos avós em Campo Grande.
Tudo começou ano passado, quando fomos viajar para a lua de mel e a Lívia ficou, pela primeira vez, por cinco dias, sem a gente, na casa dos meus pais. Ela amou e logo começou a perguntar quando iria de novo. Estabelecemos que seria durante as férias de janeiro (sem imaginar o que viria pela frente com a pandemia). E assim ela esperou, mês por mês, explicamos que as férias seriam após o Natal e ela seguiu esperando. Até que a semana, enfim, chegou. Na terça-feira ela foi e está lá.
Não é fácil a gente deixar eles voarem sozinhos, é muito mais cômodo tê-los embaixo das nossas asas, mas é necessário para o aprendizado e amadurecimento ( deles e nosso). A ideia de ir partiu da Lívia, eu a encorajei, mas disse que se não quisesse ir não teria problema, que ficaria feliz se ela estivesse feliz.
No dia de ir, ela acordou um pouco desanimada, mas conversamos e expliquei tudo isso mais uma vez. Ela então me perguntou: você vai ficar com saudade? E eu respondi, sim, ficarei com muita saudade, mas ficarei feliz se você estiver feliz. Ela respondeu, então eu vou, mamãe. E saiu correndo para chamar o avô para irem logo.
No fim das contas é isso: estou morrendo de saudade dela, mas feliz por ela estar feliz. Feliz por saber que, por menor que ela seja, ela é capaz de voar por aí, de bater as asinhas em segurança porque sabe que tem um ninho cheio de amor quando voltar. Enquanto viaja aprende a lidar com as suas decisões, a se virar e a descobrir que casa de vô e vó pode tudo. E cada vez que eu deixo ela voar por aí, vejo cada voo que meus pais deixaram eu fazer: cada vez que eu ia para a casa da minha madrinha quando pequena, cada vez que viajava sozinha com a minha vó ou que decidia coisas mais importantes. Do mesmo jeito que a gente cria filhos pro mundo, a gente ensina que sempre existirá um lugar, cheio de amor, para poder voltar.
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