Eu estou morto
Eu morri e eu posso provar
Eu morri quando parei de sentir
Eu fui assassinado ao tardar de uma infância de não sorrir
Eu desaprendi os sonhos, eles eram ilusões de conforto
Eu fui assassinado no crepúsculo
Porque eu precisava renascer no dia
E renasci!
Renasci como uma pedra
Mas não era uma pedra de mármore
Ou uma pedra de estilingue
Nem pedra de praia que sonha em ser areia e ganhar o mundo
Nem pedra de sabão, que descobre profundas intimidades para lavar corpos
Corpos com alma, corpos sem alma, corpos não corpos e corpos mortos.
Era apenas uma pedra que não sabia onde se encontrava, uma pedra não sente, e por isso não tem percepção de mundo,
Uma pedra, era o que eu era
E assim comprovo minha morte, que não consigo dizer a data, mas posso dizer que ela começou a degenerar minha vida aos cinco e consumou seu ato aos meus 29 anos.
Depois eu acordei não pedra,
Algo além
Algo que podia sentir e ter consciência de que estava sentindo
Como se pulasse de estágios, onde a escala correta deveria ser: objetos da natureza, animais irracionais e animais racionais, na qual eu pulei a do meio
Então eu sentia e sabia que sentia
E não sabia como lidar com aquilo, porque aos 30 eu nasci
Aos trinta foi concebida a minha vida, eu nasci da pedra ciente e sensível
É fato que após ter nascido, eu logo me matei. Preciso dizer isso desde já para que não haja surpresas, mas a morte era muito óbvia no caso de pessoas que nascem da pedra já com trinta anos sentindo e sabendo, e saber era um fardo.
Foi um fardo que só não era pior que o fardo de ser pedra, tão pesada que não conseguia se locomover, sequer teve a capacidade de querer
Eu sabia que ia morrer e morri, e morri de uma forma trágica e bonita (um romance básico), mas foram cinco anos bem mais vividos que os trinta anteriores, quando pedra.
Eu sabia o que era ser pedra, morte e recém-nascido.
Por: Rodrigo Perini
@perinisses
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