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Fora da Curva: Recomeço

É a primeira vez que decido me afastar definitivamente de alguém e eu não tenho sequer vontade de mandar uma mensagem ou dizer o motivo, apenas sumir e bloquear de tudo, e no caso essas pessoas são *partes do que chamam de família*: duas mulheres que acham que sou um monstro. A convivência de mais de trinta anos não foi suficiente para mostrar o oposto.


O simples fato de eu ser gay é o principal motivo de elas não quererem que meu sobrinho conviva comigo. Além disso, me culparam no passado por meu irmão ser gay também, como seu eu tivesse um poder de persuasão sobre a sexualidade alheia e como se eu quisesse que alguém passasse pela experiência horrível que é ter uma sexualidade não aceita socialmente, motivadora de violência e mortes.


Mal sabem o quanto me fizeram e fazem mal por serem tão ignorantes quanto ao tema sexualidade. E isso me lembra de quando tive um namorado que tinha depressão e fui ensinado a buscar informações sobre o que era e como entender o que passa a pessoa portadora de depressão.


Talvez se as pessoas buscassem mais informações sobre sexualidade elas não *fossem* tão violentas. A ignorância é violenta e eu já não sou obrigado a tolerar mais violências na minha vida.


Inclusive eu já fui mandado embora de casa exclusivamente por *denunciar violência doméstica* e quando o conselho tutelar procurou nossa casa ficaram sabendo do ocorrido e me mandaram para casa do meu pai, que foi tão violento quanto.


Toda violência que sofri por ser diferente e a violência “pedagógica” me tornaram uma pessoa que não se sente confortável na presença de outras pessoas. Eu demoro a permitir aproximações, levo tempo a ser quem realmente sou, e nem sempre consigo. Deve ser por isso que muitas pessoas me acham muito sério, bravo, ranzinza, mas quem realmente me conhece acha que isso é uma parte muito pequena de mim.


Outra parte de mim é uma pessoa que não aceita palavras ou comportamentos injustos sem dar uma resposta em contraposição, e se merecer talvez eu diga até coisas humilhantes, porém, eu sei que já disse tudo que eu poderia dizer e que não cabe a mim educar pessoas que querem viver na ignorância.


Eu acredito que tem sentimentos que *devem ser expressados*, o que não é mais o caso, o caso é que não existem mais sentimentos, é a morte de relações nas quais eu não caibo mais e me retiro para que as violências não sejam mais participantes da minha vida. Eu quero paz, alegria, acolhimento, lidar com meus sentimentos não tão bons de uma forma leve, amadurecer e envelhecer com qualidade e não mais em meio a uma guerra eterna que eu não criei, mas que preciso me defender constantemente.


Assim, recomeço minha vida, com perspectivas de menos agressões gratuitas geradas apenas por ser quem eu sou e pela incapacidade alheia de lidar com o diferente, pelo preconceito e a falta de amor em tentar entender.


Sinto-me mais leve, desde então.

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