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“Silêncio Branco” da Ginga Cia de Dança leva o tema da violência contra a mulher para o palco

A Ginga Cia de Dança está completando 35 anos e vai celebrar a data com o novo espetáculo “Silêncio Branco” que trata de um tema social tão difícil quanto urgente: a violência contra a mulher. As apresentações serão em Campo Grande, no Teatro Glauce Rocha nos dias 26 e 27 de março, em Dourado no dia 9 de abril no Sucata Cultural e em Corumbá no dia 29 de abril no Centro de Convenções do Pantanal. A entrada é franca.

Em todo tempo de atividade, a companhia abordou inúmeras vezes em suas produções o universo feminino e agora, enfrenta o que considera o maior desafio, apresentar com arte e dança uma realidade de objetificação da mulher que culmina em agressões e feminicídios. O diretor e criador da Companhia, Chico Neller apresentou a proposta de espetáculo para o Fundo de Investimentos Culturais -FIC-MS da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul em 2019 e por conta da pandemia Covid 19, a estreia foi adiada e ao mesmo tempo, a pesquisa e todo o processo acabou aprofundado. E o que se viu, foi que o isolamento social, não apenas retardou o espetáculo como também aumentou em 33,3% os casos de assassinatos contra a mulher, saltando de 30 casos em 2019 para 40 em 2020 em Mato Grosso do Sul.


O feminicídio é o ápice da violência, mas as formas de ataque às mulheres têm os registros mais variados e isso tem um enorme impacto social, mesmo assim, segundo Chico Neller o assunto pouco extrapola as bolhas punitivas ou de proteção. “A comunidade não enfrenta este tema com a gravidade e a força necessária. Parece que estamos todos inertes, congelados, apenas assistindo os casos acontecerem e foi isso que nos motivou a fazer alguma coisa. Estamos colocando a dança à serviço desta discussão, colocando nossa arte para que, com outra linguagem, contribua para arrancar a venda dos olhos da sociedade”, explica Neller.

O diretor conta que o processo de coleta de dados e pesquisa foi extremamente difícil, e um dos maiores enfrentamentos de sua carreira profissional. A ideia de ouvir as vítimas pra entender os casos, além dos índices foi um enorme obstáculo. Elas se recusavam. “Precisávamos nos aproximar dos sentimentos, estar ao lado delas para conseguir melhor representar essas emoções. Além disso, enfrentei a acusação de que, por ser homem, eu não tinha ‘o lugar de fala’ para montar o espetáculo. Entendo que as mulheres precisam ser mais ouvidas, mas isso só irá reduzir quando todos estivermos envolvidos”, defende Neller.

Pesquisa

O processo de pesquisa para a montagem contou com uma rede de colaboradores, levou todo o elenco da companhia a conversar com autoridades ligadas aos direitos e à defesa das mulheres, em reuniões e encontros na Casa da Mulher Brasileira, entre outros. Mais diretamente na reunião de estudos científicos e pesquisas sobre a bases históricas na origem da construção social da condição feminina, A Ginga contou com a colaboração direta do ex-bailarino da Companhia e estudioso do tema, Gilbas Pisa. Ele é criador, mestre em performance e cultura pela University de Londres e pós-graduado em intersecções do feminismo. “Meu trabalho foi auxiliar para que todos da companhia compreendessem que o patriarcado é uma construção histórica, formada por homens, mas com apoio ativo também das mulheres. A sexualidade da mulher, assim como a sua capacidade de trabalho e reprodutiva foram vistas, desde sempre, como recursos que poderiam ser adquiridos e negociados pelo homem. Estas foram uma das bases que discutimos para a construção do espetáculo”, afirma Gilbas.

Segundo ele, a Ginga sempre esteve presente em toda a sua carreira e poder agora contribuir como pesquisador em comemoração aos 35 anos da companhia é muito enriquecedor. “A criação da Ginga Cia de Dança em 1986 é um marco para a dança de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Se manter em atividade por tanto tempo é uma história de resiliência e sucesso nas artes cênicas brasileiras. Para mim, poder colaborar com um tema tão desafiador, mostra o protagonismo da Ginga, a força e a enorme coragem de enfrentar um tema que muitos ainda insistem em negar”, finaliza.


Texto: Gisele Colombo - FCMS

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